Me The Works of Wellyson Freitas

Espanha

A Espanha é alegre, talvez o país mais vibrante que tivemos a chance de visitar. Também é bastante ensolarada. Não é à toa que na Alemanha todo mundo só quer saber de ir para Majorca no verão. As ilhas e o litoral mediterrâneo da Espanha são famosos pela paisagem paradisíaca, como nas praias da Costa del Sol. No interior há um contraste pela paisagem árida de La Mancha, onde Don Quijote lutou contra os Molinos de Viento de Consuegra – ou pelo menos pensou que sim. Os grandes centros urbanos como Madrid também são muito elegantes. Barcelona é a cidade com a arquitetura mais rica e diversificada, sem dúvida.

Barcelona é a capital da Catalunya, quase outro país dentro da Espanha, com língua própria, o catalão. A cidade que já foi chamada de “Paris da Espanha” lembra um pouco mesmo a capital francesa, principalmente no bairro de Eixample. Existe um elegante padrão nas fachadas, mas com a diferença das ruas completamente ortogonais, apenas cortadas pela Diagonal. Uma obra-prima da arquitetura fica em Eixample, a Sagrada Família. O Art Nouveau de espirais e várias formas orgânicas de alguma forma se harmonizam com o estilo gótico para representar cenas bíblicas nesse enorme projeto de Gaudí. Nossos padrinhos de casamento moravam ali perto e explicaram que cada detalhe tem um significado, o que talvez explique porque tem demorado tanto para concluir a obra.

Uma das vias principais do Eixample é a Passeig de Gràcia, uma agradável boulevard arborizada onde encontramos outras obras de Gaudí como a Casa Milá e a Casa Batlló. No mesmo quarteirão da Casa Batlló, existem pelo menos mais duas casas de aparência muito intrigante: a Casa Amatller e a Lléo Morera. Esse quarteirão é conhecido como a Illa de la Discòrdia, um aglomerado do modernismo catalão. Encontramos várias plaquinhas vermelhas no chão indicando a Rute del Modernism por toda a cidade. De todos esses lugares, o que mais gostamos é o Parque Guell. Esse também é um projeto de Gaudí, inclusive com um museu do arquiteto onde antes era a sua residência. Passamos um bom tempo passeando por ali, admirando as colunas, os mosaicos, os jardins, e a vista para toda a cidade sob o céu azul imbatível. O parque fica no bairro da Gràcia onde também está a Casa Vicens Gaudí, um lugar com muitos traços islâmicos.

No século 8, a península ibérica foi invadida pelos muçulmanos, que passaram a chamar o território ocupado de Al-Andaluz. Na verdade, só não entraram para a França e o resto da Europa porque foram barrados na fronteira delimitada pelos Pirineus, os Alpes da Espanha. Isso durou até o fim da Reconquista em 1492, quando os reis espanhóis Fernando e Isabel derrubaram a última resistência em Granada. Essa passagem dos muçulmanos por tanto tempo na Espanha e em Portugal deixou um legado cultural muito forte até hoje nesses dois países, que já tinham bastante coisa em comum. O português tem várias palavras de origem árabe, muitas começadas com “a”: açúcar, algodão, azeite, álcool, azulejo. Aliás, os azulejos azuis e brancos que decoraram muitos casarões em Portugal e no Brasil têm aí sua origem, um importante elemento da arquitetura mourisca. Na região de Andaluzia, nome que também deriva do árabe Al-Andaluz, permaneceram grandes feitos da arquitetura mourisca como a Catedral de Sevilha, a Alhambra em Granada, e a Mesquita de Córdoba.

Em 1478, já no fim da Reconquista, teve início a Inquisição Espanhola, que durou oficialmente até 1834. Não somente os muçulmanos, mas também os judeus, os protestantes, e todos os que representassem uma ameaça foram severamente perseguidos. Portugal seguiu o mesmo caminho com a Inquisição Portuguesa de 1536 a 1821, já que muitos fugiram para lá. A intolerância foi levada também pelos colonizadores para a América Latina que se tornou um reduto católico durante a reforma na Europa.

Cristóvão Colombo teve suas expedições financiadas em 1492 por Fernando e Isabel. Perto do Museu Marítimo, de frente para o mar, encontramos uma estátua de bronze de Colombo em cima de um enorme pedestal. Ali termina a La Rambla, uma avenida para pedestres desde a Praça de Catalunya, onde chegamos da Passeig de Gràcia. A melhor parte dessa larguíssima rua são as árvores que produzem sombra e uma belíssima perspectiva.

Do lado esquerdo da La Rambla, na direção para o mar, fica o bairro gótico, um lugar de ruas e passagens estreitas que tivemos a alegria de explorar. Essa parte da cidade é tão antiga que tem até ruínas romanas e muralhas medievais. Ali encontramos no Call de Barcelona, bairro dos judeus, uma das mais antigas sinagogas da Europa. Apesar de toda a perseguição, Barcelona é onde hoje está a maior comunidade de judeus na Espanha, também a muçulmana. A convivência pacífica é um motivo para se alegrar.

A música e a dança estão presentes por toda parte. Perto do Carrer del Bisbe, uma atração conhecida, encontramos vários artistas de rua se apresentando. Havia uma mulher dando um show a capella, dois violonistas muito habilidosos, e alguém tocando castañuelas não sabemos de onde – aquele som ecoava alto pelos corredores. Ainda assistimos por alguns minutos um grupo de velhinhos dançando em roda, muito dispostos na performance. Mas foi no Parque da Cidadella onde encontramos um povo mais animado ainda. Assistimos vários casais dançarem flamenco em um coreto. Havia uma fonte onde crianças brincavam, muitos pássaros, tudo sob o perfeitamente límpido céu azul.

Ali perto fica o Arco do Triunfo de Barcelona, uma das atrações erguidas para a Exposição Universal de 1929. Visitamos a Plaça de Espanya, onde fica uma das principais construções para o evento: a fonte mágica. Fica de frente para o Palácio de Nacional de Catalunya, no monte Montjuïc. Um dos lugares mais fascinantes construídos para a feira é o Poble Espanyol, um museu a céu aberto com vários edifícios expondo a arquitetura do país.

Terminamos com um gelato dando um passeio na orla da Barceloneta. É sempre bom aproveitar ao máximo o sol antes de voltar para Berlim.